sexta-feira, 24 de abril de 2009

Das minhas (in)certezas.

Logo ela, tão certinha, tão centrada, tão antenada. Menina crítica, a frente de seu tempo, cheia de livros. A que sabia de todas as notícias, as músicas alternativas, os filmes que iriam estrear, as peças que estariam em cartaz em Brasília. Logo ela, que era tão diferente de tudo e todos, que fugia tanto dos clichês, que nunca aceitava comparações. Ela que estudava História da Arte, História do Brasil, História Contemporânea, História-de-tudo-e-todos.
Um dia, por acaso, percebeu que não tinha mais certeza de nada. Que não sabia mais se era a dona da verdade e do gosto refinado. Estava na sala estudando para a prova de Políticas Educacionais. O celular avisou que havia chegado mensagem. Ela saiu correndo, tropeçando nos fios, perdendo a concentração, olhou logo a mensagem, que esperava ser do tal menino-enjoado-que-ela-tanto-sentia-saudade, a mensagem em que ele diria que ela era a menina-enjoada-que-fazia falta, mas não era. Era do 144 e dizia sobre o plano infinity da TIM. Logo ela, que nunca esperou nada de ninguém, quem dirá uma mensagenzinha de fim de tarde, estava agora parada, sem reação e completamente decepcionada com tudo. Questionou-se sobre o que ela queria, de fato. Não tinha mais certeza se queria mesmo estudar sobre Políticas Educacionais. Se tinha vontade de chorar ou de fingir que não tinha importado. Não sabia mais se aquela barreira que era impenetrável havia sido derrubada e, agora, entrava em seu mundo qualquer um que passasse. A moça que não tinha dúvidas sobre nada, não conseguia nem mais decidir se queria tomar coca-cola ou suco de laranja no lanche.
Não tinha mais domínio de si e de suas vontades. Permanecia aquele desejo de ligar, de falar tudo o que pensava, de "correr pra o abraço", de fazer acontecer. Logo ela, que nunca tinha más intenções, que se privava, estava, agora, desconectada de seus princípios e totalmente inconsequente. Ela que se controlava tanto, queria se arrepiar, experimentar, viver mais. Tudo se resumia a sua vontade de se permitir.
E ela queria rápido. E muito!

sábado, 11 de abril de 2009

Poema.

"Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com seu carinho
E lembrei de um tempo...

Porque o passado me traz uma lembrança
De um tempo em que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via um infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim (que não tem fim)

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás."

Cazuza

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Sensação.

Olhar no fundo dos teus olhos, vasculhar o íntimo da tua alma, contemplar teu sorriso que me aquieta(va) e não me encontrar mais em nenhum canto da tua vida dói. Lembrei-me, então, da vez em que prendi o meu dedo na porta do guarda-roupas. Senti uma dor pungente, cruciante; era uma dor clara, uma dor tão inteira que ocupava todos os meus pensamentos - como tu ocupas meu pensamento, agora. Levei o dedo até a minha boca e passei a língua sobre ele, umedecendo-o, mas o calor da minha boca não foi capaz de suavizar a dor que eu sentia - como as inúmeras tentativas inábeis de apagar tua lembrança em mim. Fiquei quietinha, deitada com o dedo abraçado a mim mesma. Vivenciar a dor, naquele momento, não foi tão ruim. Foi bom perceber que a dor começava intensa e ia diminuindo - como tu vais diminuir em mim. A dor aparece inesperadamente como um raio, e vai embora lentamente como uma tempestade. Aliás, ela se foi deixando uma marca azulada sob minha pele, que no outro dia era verde; no outro, amarela; e, no outro, nem existia mais. Ela se foi sem deixar marcas - e acredita, boy, tu vais também sem deixar marca alguma!

E a cada vez que eu me lembro que meus olhos se apertam enquanto o meu sorriso se abre, meu coração se acalma e não há dor no mundo que me arranque essa felicidade. É! Não há!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Nota de sexta-feira à noite.

Eu quero chorar. É, eu quero! Quero chorar porque não entendo o que estão me falando e não faço questão de entender. Quero chorar porque estou ouvindo uns ruídos que deveriam ser minhas músicas prediletas, mas não consigo nem entende-las de tanta vontade de chorar. Quero chorar porque estou cansada de estudar psicologia da educação; se nem da minha educação eu sei, quem dirá da educação dos outros. Quero, mas quero muito chorar porque minha cabeça está doendo e aqui em casa não tem sedalgina, sedalex, sedalol e nem seda-qualquer-coisa. Aqui não tem sedativo para dor existencial.
Quero chorar porque estou cansada de tanta gente falando sobre crise estatal, crise existencial, crise educacional, crise moral, crise constitucional, crise do escambal. Tem sempre alguém falando e falando, e isso, hoje, está me dando vontade de chorar. Quero chorar porque não aguento mais a minha mãe falando pra eu colocar o fone de ouvido, já que ela não quer ouvir minhas "músicas chatas". Quero chorar porque eu queria correr para os braços de alguém especial, mas esse alguém foi embora e eu nem tenho mais certeza se era tão especial assim.

Isso mesmo, estou a fim de chorar. Até o faria se as minhas glândulas lacrimais fossem mais cheias.

03 de abril de 2009, 20:23, sexta-feira. É, eu também surto às vezes. Não, não é constante. Aliás, eu não sou constante. E vai passar! =)