Logo ela, tão certinha, tão centrada, tão antenada. Menina crítica, a frente de seu tempo, cheia de livros. A que sabia de todas as notícias, as músicas alternativas, os filmes que iriam estrear, as peças que estariam em cartaz em Brasília. Logo ela, que era tão diferente de tudo e todos, que fugia tanto dos clichês, que nunca aceitava comparações. Ela que estudava História da Arte, História do Brasil, História Contemporânea, História-de-tudo-e-todos.
Um dia, por acaso, percebeu que não tinha mais certeza de nada. Que não sabia mais se era a dona da verdade e do gosto refinado. Estava na sala estudando para a prova de Políticas Educacionais. O celular avisou que havia chegado mensagem. Ela saiu correndo, tropeçando nos fios, perdendo a concentração, olhou logo a mensagem, que esperava ser do tal menino-enjoado-que-ela-tanto-sentia-saudade, a mensagem em que ele diria que ela era a menina-enjoada-que-fazia falta, mas não era. Era do 144 e dizia sobre o plano infinity da TIM. Logo ela, que nunca esperou nada de ninguém, quem dirá uma mensagenzinha de fim de tarde, estava agora parada, sem reação e completamente decepcionada com tudo. Questionou-se sobre o que ela queria, de fato. Não tinha mais certeza se queria mesmo estudar sobre Políticas Educacionais. Se tinha vontade de chorar ou de fingir que não tinha importado. Não sabia mais se aquela barreira que era impenetrável havia sido derrubada e, agora, entrava em seu mundo qualquer um que passasse. A moça que não tinha dúvidas sobre nada, não conseguia nem mais decidir se queria tomar coca-cola ou suco de laranja no lanche.
Não tinha mais domínio de si e de suas vontades. Permanecia aquele desejo de ligar, de falar tudo o que pensava, de "correr pra o abraço", de fazer acontecer. Logo ela, que nunca tinha más intenções, que se privava, estava, agora, desconectada de seus princípios e totalmente inconsequente. Ela que se controlava tanto, queria se arrepiar, experimentar, viver mais. Tudo se resumia a sua vontade de se permitir.
E ela queria rápido. E muito!